Filipe Pinto - A Dôr do Fado
Esta gravação data de 1930 e pertence à Face A do disco de 78 R.P.M. editado pela “Odeon”, etiqueta “Valentim de Carvalho”, em que o cantador Filipe Pinto, acompanhado à guitarra por Armandinho, e à viola por Georgino, interpreta dois fados do seu reportório.
Este é o “Fado Marcha do Correeiro”, da autoria de Alfredo dos Santos, compositor conhecido como “Alfredo Correeiro”, por ter a respectiva profissão de correeiro. Aqui, Filipe Pinto interpreta a poesia “A Dôr do Fado”, da autoria de José dos Santos, mais um poema sobre a dor presente na Canção Nacional, que é o Fado por excelência, e já com uma conotação bem nacionalista.
Este disco foi alvo de regulares transmissões radiofónicas na Emissora Nacional, no Rádio Clube Português, na Rádio Peninsular e na Rádio Luso, e tornou-se num dos primeiros grandes êxitos de Filipe Pinto, conhecido como “O Marialva do Fado”.
Filipe de Almeida Pinto nasceu em Lisboa, nos Barbadinhos, freguesia de Santa Engrácia, em 2 de Maio de 1905. Era filho de Henrique de Almeida Pinto e de Maria da Silva.
Como o próprio confessou, era nos Barbadinhos que, ao tempo, deitavam o pregão dos seus Fados o Rosa Sapateiro, de saudosa memória, e os irmãos Vilanova ou o Aguiar Batata, ainda vivos, felizmente.
Exerceu a profissão de Operário Litógrafo e começou a cantar o fado com quinze anos de idade, como ele próprio afirma em entrevista inserida na primeira página da “Guitarra de Portugal” de 18 de Junho de 1932.
Em Maio de 1927, Filipe Pinto, adquire o cartão artístico, cartão que hoje não existe, e destaca-se como uma das figuras mais apreciadas pelo público, dotado, não só de uma excelente voz, como de uma presença muito marcante.
Manteve uma ligação sentimental com a jovem cantadeira Cecília de Almeida, que vivia na Rua do Norte, ao bairro Alto, a célebre «Cotovia do Bairro Alto», e que viria a falecer no dia 1 de Fevereiro de 1932.
Fez parte da “Companhia Típica Portuguesa da Embaixada do Fado” que se deslocou ao Brasil, tendo partido em Agosto de 1934. Este grupo, dirigido por Alberto Reis, que incluía também as presenças de Maria do Carmo e Maria do Carmo Torres, Branca Saldanha, Joaquim Pimentel, Armandinho (guitarra) e Santos Moreira (viola), segundo o exemplar do jornal “Guitarra de Portugal” de 21 de Agosto de 1934. Posteriormente, em Junho de 1935 estariam presentes em Buenos Aires.
De regresso passou pelo “Salão Artístico de Fados”, e pela “Cervejaria Vitória”, mantendo-se no elenco do “Café Mondego”, “Retiro da Severa”, e “Solar da Alegria”, de que foi director artístico em finais da década de trinta e onde, anos antes, havia ganho uma medalha de ouro num concurso de Fado Corrido, onde foi agraciado por uma enorme ovação.
Foi um dos primeiros fadistas a colaborar imenso com a Emissora Nacional, onde tinha programas regulares de fados, e onde os seus discos eram imensamente ouvidos, merecendo destaque “Guitarras de Portugal”, “O Beijo”, “Teu Amor”, e este disco que estamos a ouvir. Passaria também por postos como o Rádio Clube Português, a Rádio Peninsular e a Rádio Luso.
Continuou o seu percurso de actuação em várias casas de Fado, designadamente, no “Luso”, na “Adega Mesquita”, na “Márcia Condessa”, na “Toca”, na “Viela”, na “Mãe Preta”, no “Canto do Camões”, entre outras.
Em 1945 era referenciado como “fadista de carreira brilhante, profissional com “fúria de amador, sempre presente onde o Fado se apresenta…”. Saliente-se que, Filipe Pinto, se tornou numa das figuras mais influentes no meio, conciliando também a actividade de gerente artístico do“Café Monumental” (1945) e do “Café Luso” (1946), que lhe proporcionou a descoberta e divulgação de novos talentos, bem como a organização de festas de homenagem, como a realizada em Janeiro de 1948, no Café Luso, e que distinguiu Alfredo Marceneiro como Rei do Fado.
Pela forma peculiar de como se vestia, e pelos sapatos de tacão alto que usava, Filipe Pinto ficou conhecido pela alcunha de Marialva do Fado.
Em 1961, gravaria o seu último disco, um EP cujo paradeiro desconhece-se completamente, mas que ele gravou com Francisco Carvalhinho, na guitarra, e Martinho d’Assunção na viola. Esse seria o seu disco mais bem-sucedido, alcançando êxito temas como “Minha Mãe Foi Cigarreira” ou “O Teu Cabelo”.
Em 29 de Novembro de 1962 é alvo de uma Homenagem no antigo Cinema Tivoli, com a participação, entre outros artistas, de Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha, Max, Artur Ribeiro, Ilídio dos Santos, Lucília do Carmo, Martinho D´Assunção, entre outros.
Já debilitado pela doença, Filipe Pinto viria a falecer em 1968.
Estas informações foram gentilmente cedidas pelo Museu do Fado, e o registo que ouvimos foi retirado do disco original disponibilizado pelo Arquivo Sonoro Digital do Museu do Fado.
É com muito prazer e muita honra que, pela 1ª vez, divulgo no meu canal o cantador Filipe Pinto, que a par de Alfredo Marceneiro, foi um dos maiores fadistas de sempre, e um dos mais queridos e admirados do Mundo Fadista.
Espero que gostem.