Lajedo de Soledade (Apodi/RN)
Texto: Benedito de Sousa Melo
Narração: estudantes do 6º ao 9º ano da Escola Municipal Félix Antônio, em Alto do Rodrigues/RN
Ano: 2013
LAJEDO DE SOLEDADE: SERTÃO DE 140 MILHÕES DE ANOS
O lajedo de Soledade começou a se formar há 140 milhões de anos, ainda no tempo dos dinossauros, quando a América do Sul estava se separando da África, no processo de deriva continental.
O lugar foi fundo de oceano durante milhões de anos e a rocha calcária que mais tarde se tornaria as ravinas e as cavernas do lajedo, formou-se a partir de cochas de moluscos e restos de outros animais marinhos, depositados naquele fundo de oceano.
Com o recuo do mar, o calor do sol e as correntes de água passando sobre as rochas abriram numerosas rachaduras, que foram se alargando ao longo dos milhões de anos, esculpindo as saliências e grotas encontradas no lajedo.
Há milhares de anos o lugar foi habitado por animais como preguiças e tatus gigantes, mastodontes e tigres de dentes de sabre, entre muitos outros, hoje extintos, sobrando apenas os fósseis que podem ser vistos no museu do lajedo.
Os mais antigos sinais da presença humana no lugar datam de cerca de 5 mil anos atrás. Seriam grupos de caçadores-coletores, que usavam as ravinas para encurralar os animais que caçavam. As cavernas também serviam como abrigos, onde homens e mulheres descansavam, deitados sobre as rochas.
Aproveitando um pigmento vermelho, constituído por óxido de ferro, extraído ali mesmo no lajedo, e misturado com o sangue e a gordura dos animais caçados e com a seiva de plantas, os caçadores fizeram desenhos de araras, papagaios, espigas de milho, palmas de mãos, dígitos, espirais, retângulos, círculos, sóis, estrelas e outras figuras, que se encontram espalhadas por vários paneis rupestres e proporcionam uma fantástica viagem no tempo.
Além das pinturas, os caçadores-coletores também fizeram arranhões nas rochas, talvez enquanto estavam amolando e polindo seus instrumentos, contando os animais ou marcando a passagem do tempo.
As pinturas pertencem à tradição Agreste e os arranhões nas rochas pertencem à tradição das Itacoatiaras, que são denominações dadas pelos arqueólogos à arte rupestre dos primeiros habitantes do Nordeste brasileiro.
Os grupos de caçadores-coletores ainda deixaram vários instrumentos no lugar, como almofarizes, pontas de lança e machados de pedra, atualmente expostos no museu do lajedo.
A história desses grupos humanos é pouco conhecida. Provavelmente estiveram na Serra da Capivara, Estado do Piauí, onde existem pinturas parecidas com as do lajedo de Soledade e onde a arqueóloga Niede Guidon encontrou sinais da presença humana que datam de mais de 40 mil anos atrás.
Os primeiros povoadores do continente americano chegaram no tempo em que ainda era possível passar de pés entre a Sibéria e o Alasca, porque o nível dos oceanos era mais baixo que atualmente, e várias levas de seres humanos passaram da Ásia para América, enquanto procurara novas áreas de caça.
Eles também podem ter navegado de ilha em ilha, por várias rotas, desde a Ásia e a Oceania, chegando à costa Oeste da América, e, daí, se espalhado pelo interior, até chegarem ao litoral atlântico.
De qualquer modo, o lajedo de Soledade foi ocupado por grupos humanos de culturas distintas, em variadas épocas, cada grupo deixando suas próprias marcas no local.
O lajedo de Soledade, como uma grande escultura na rocha, é um testemunho das transformações geológicas que aconteceram no planeta, de animais gigantes hoje desaparecidos, bem como da vida e da arte dos primeiros seres que chegaram ao Sertão do Rio Grande do Norte.