TROPICÁLIA (letra e vídeo) com CAETANO VELOSO, vídeo MOACIR SILVEIRA
O tropicalismo foi um importante movimento musical que também influenciou outras esferas culturais (artes plásticas, cinema, poesia, moda, etc) por todo o país e que teve início no final da década de 1960. O marco inicial foi o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record.
O movimento tropicalista chegou mesmo a influenciar até mesmo a cultura pop internacional, em especial as correntes de vanguarda como, por exemplo, o concretismo. Foi inovador ao mesclar aspectos tradicionais da cultura nacional com inovações estéticas, tais como a pop art.
Inovou também em possibilitar o sincretismo entre vários estilos musicais como o rock, bossa nova, baião, samba, bolero, dentre outros.
As letras das músicas possuíam um tom poético, sem abandonar a crítica social e abordando temas do cotidiano de uma forma inovadora e criativa.
Não tinha como objetivo principal utilizar a música como “arma” de combate político à ditadura militar. Daí ter sido muito criticado por aqueles que defendiam as músicas de protesto. Seus idealizadores acreditavam que a inovação em si já era uma maneira revolucionária de marcar presença.
A introdução de guitarras elétricas nos arranjos também foi objeto de duras críticas à época. Muitos músicos tradicionais e nacionalista acreditavam que sua utilização era uma forma de se render às influências do pop-rock norte-americano.
Seus principais representantes foram: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Torquato Neto, Tom Zé, Jorge Bem, Gal Costa e Maria Bethânia.
Além de Tropicália (1968), o movimento contou com outros grandes sucessos como “Alegria, Alegria” (Caetano Veloro,1968), “Panis Et Circensis” (Gilberto Gil e Caetano Veloso, 1968), “Atrás do Trio Elétrico” (Caetano Veloso, 1969), Cadê Teresa (Jorge Ben, 1969) e “Aquele Abraço” (Gilberto Gil, 1969).
Essa música tinha por nome original Mistura Fina, mas por insistência do produtor Manoel Barenbein acabou identificada por Tropicália, título de obra do mesmo nome do artista plástico Hélio Oiticica. Uma curiosidade: o batuque e o texto - que se refere à famosa carta de Pero Vaz de Caminha, quando do descobrimento do Brasil - declamado pelo percussionista Dirceu Chuchu na introdução não são criação do autor, mas um improviso do próprio Dirceu que Caetano e Medáglia prontamente incorporaram à música.
TROPICÁLIA
De: Caetano Veloso
Quando Pero Vaz Caminha
Descobriu que as terras brasileiras
Eram férteis e verdejantes,
Escreveu uma carta ao rei:
Tudo que nela se planta,
Tudo cresce e floresce.
E o Gauss da época gravou.
Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país
Viva a Bossa, sa, sa
Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça
Viva a Bossa, sa, sa
Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça
O monumento
É de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde
Atrás da verde mata
O luar do sertão
O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga
Estreita e torta
E no joelho uma criança
Sorridente, feia e morta
Estende a mão
Viva a mata, ta, ta
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta
Viva a mata, ta, ta
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta
No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina
E faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis
Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre
Muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança um samba de tamborim
Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele põe os olhos grandes
Sobre mim
Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém...
O monumento é bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da
Viva a banda, da, da
Carmem Miranda, da, da, da, da